O Processo de Escrita com Inteligência Artificial
A ideia surgiu com alguma naturalidade.
Usar o ChatGPT para me ajudar a corrigir o livro: encontrar gralhas, apontas dissonâncias, ver pequenos erros.
Surpreendentemente, não achei que fosse incrível nessa tarefa. Deixava passar muita coisa - apesar de me ter apontado falhas que não veria -, e muitas vezes destacava erros que não existiam.
O termo técnico para isto é "alucinação". Quem nunca?
Porém, algures a meio, lembrei-me de pedir também, além dos apontamentos já supracitados, que me fizesse um pequeno relatório de cada trecho que enviava, apontando as coisas boas e aquelas que poderia melhorar.
O que fui reparando foi-me deixando boquiaberto. A inteligência artificial fazia-me recomendações muito válidas e, até, sugestões que resolvi integrar e que melhoraram a obra.
Um exemplo que me lembro com grande nitidez: tinha as "Notícias de Última Hora" todas juntas num capítulo, mas acabei por aceitar a ideia de as separar ao longo do livro, de modo a marcar a cadência do texto. Não há dúvida nenhuma de que esse pormenor aumentou a qualidade do manuscrito.
Foi então que surgiu a ideia que viria a diferenciar o 1985 de todas as outras obras: usar a inteligência artificial enquanto personagem, fazendo dela mesma. Assim, na narrativa, a IA surge enquanto assistente virtual de Wilson, tal e qual o que acontece connosco, sempre que invocamos essa força mística e hipnotizante. ADAM vê a luz do mundo, num instante em que progenitor e cria são a mesma coisa, pois foi a inteligência artificial que me deu o seu metanome: ADAM (Autonomous Decentralized Alghoritmic Manager).
No total, diria que 90% a 95% da obra é da minha autoria, mas os 5% ou 10% do ADAM retiram o nevoeiro, removem o entulho que deixa o texto respirar. Direi e repetirei muitas vezes: a obra é o mais importante. A mensagem sobrepõe-se ao mensageiro. No princípio era o Verbo. Este foi um processo humilhante - no sentido de me tornar mais humilde - mas também libertador.
Os vários meses de labuta, para a frente e para trás, fizeram-me ver que a arte é exatamente isto: usar todos os recursos disponíveis para chegar à melhor Obra possível. Foi isso que tentei, tentámos, fazer com 1985, e estou muito satisfeito com o resultado.
Fábio Nobre